Réquiem para um feminismo fordista. Uma síntese do feminismo e anti-imperialismo latino-americanos

Contenido principal del artículo

Annelise Erismann

Resumen

Esse artigo visa contribuir, sob a ótica dos estudos críticos sobre as ciências, às discussões entre feministas pós-coloniais brasileiras sobre a ambiguidade geopolítica do feminismo brasileiro, identificada em seu tratamento do estereótipo da “bolsista da Fundação Ford”. Documentando instâncias de autocritica sobre a dependência de financiamentos externos do feminismo brasileiro em escritos autobiográficos de seus grandes nomes, o artigo sistematiza as subjetividades feministas frente à materialidade conquistada, salientando também a resistência à sua codificação enquanto estrangeirismo à universidade brasileira. Alego que práticas de silenciamento feministas sobre o estereótipo — e o financiamento — da Fundação Ford, justificadas em seu contexto histórico, não conseguem calar vozes críticas dentro do próprio feminismo, cada vez mais democrático e plural. A despersonalização da questão do financiamento estrangeiro e sua relocalização na arquitetura de financiamento nas ciências sociais latino-americanas poderia revelar o caráter pioneiro do feminismo brasileiro e o possibilitar maior autonomia.

Detalles del artículo

Cómo citar
Erismann, A. (2024). Réquiem para um feminismo fordista. Uma síntese do feminismo e anti-imperialismo latino-americanos. Debate Feminista, 68, 163–194. https://doi.org/10.22201/cieg.2594066xe.2024.68.2401
Sección
Artículos
PLUMX Metrics

Citas

Adrião, Karla Galvão, Maria Juracy Filgueiras Toneli, e Sonia Weidner Maluf. 2011. “O movimento feminista brasileiro na virada do século XX: reflexões sobre sujeitos políticos na interface com as noções de democracia e autonomia”, Revista Estudos Feministas, vol. 19, núm. 3, pp. 661-682. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2011000300002

Álvarez, Sonia E. 1998. “Feminismos latinoamericanos”, Revista Estudos Feministas, vol. 6, núm. 2, pp. 265-284.

Álvarez, Sonia E. 2014. “Para além da sociedade civil: reflexões sobre o campo feminista”, Cadernos Pagu, núm. 43, pp. 13-56. https://doi.org/10.1590/0104-8333201400430013

Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior). 2004. A contra-reforma universitária do governo Lula. Universidade e Sociedade, núm. 33, 224 pp. Disponível em <https://www.andes.org.br/img/midias/

b96e599b67b9a3af7cd58fafcfc0df8_1547841031.pdf>.

Ballestrin, Luciana Maria de Aragão. 2017. “Feminismos subalternos”, Revista Estudos Feministas, vol. 25, núm.3, pp. 1035-1054. https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n3p1035

Ballestrin, Luciana. 2020. “Feminismo de(s)colonial como feminismo subalterno Latino-Americano”, Revista Estudos Feministas, vol. 28, núm. 3, pp. 1-14. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n375304

Beleli, Iara. 2013. “Publicações feministas: velhos e novos desafios”, Revista Estudos Feministas, vol. 21, núm. 2, pp. 637-641. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2013000200015

Boenavides, Débora Luciene Porto. 2019. “Ressignificar e resistir: a Marcha das Vadias e a apropriação da denominação opressora”, Revista Estudos Feministas, vol. 27, núm. 2, pp. 1-9. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n248405

Borba, Angela, Hildete Pereira, Jacqueline Pitanguy e Wania Sant’anna. 1994. “Feminismo no Brasil de Hoje”, Revista Estudos Feministas, vol. 2, núm. 2, pp. 428-443. Disponível em <https://www.jstor.org/stable/43903679>.

Bozzano, Caroline Betemps. 2019. “Feminismos transnacionais descoloniais: algumas questões em torno da colonialidade nos feminismos” Revista Estudos Feministas, vol. 27, núm.1, pp. 1-7. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n158972

Canêdo, Leticia. 2009. “Les boursiers de la Fondation Ford et la recomposition des sciences sociales brésiliennes. Le cas de la science politique”, Cahiers de la Recherche sur l’Éducation et les Savoirs, Hors-série núm. 2, pp. 33-55. Disponível em <http://journals.openedition.org/cres/670>.

Chamberlain, Mariam. K. e Alison Bernstein. 1992. “Philanthropy and the Emergence of Women's Studies”, Teachers College Record, vol. 93, núm. 3, pp. 556-568. Disponível em <https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/

>.

Costa, Albertina de Oliveira. 1988. “É viável o feminismo nos trópicos? Resíduos de insatisfação - São Paulo, 1970”, Cadernos de pesquisa, núm. 66, pp. 63-69. Disponível em <https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/1206>.

Costa, Albertina de Oliveira. 1994. “Os estudos da mulher no Brasil ou a estratégia da corda bamba”, Revista Estudos Feministas, núm. especial, pp. 401-409. Disponível em <https://www.jstor.org/stable/24327185>.

Costa, Albertina de Oliveira. 2004. “Revista Estudos Feministas: primeira fase, locação Rio de Janeiro”, Revista Estudos Feministas, vol. 12, núm. especial, pp. 205-210. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2004000300022

Costa, Ana Alice Alcântara e Cecilia Maria Bacellar Sardenberg. 1994. “Teoria e práxis feministas na academia os núcleos de estudos sobre a mulher nas universidades brasileiras”, Revista Estudos Feministas, núm. especial, pp. 387-400. Disponível em <https://www.jstor.org/stable/24327184>.

Costa, Claudia de Lima. 2009. “Histórias/estórias entrelaçadas do(s) feminismo(s): introdução aos debates”, Revista Estudos Feministas, vol. 17, núm. 1, pp. 207-213. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2009000100011

Costa, Claudia de Lima e Sonia E. Álvarez. 2013. “A circulação das teorias feministas e os desafios da tradução”, Revista Estudos Feministas, vol. 21, núm. 2, pp. 579-586. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2013000200009

Cooke, Bill e Rafael Alcadipani. 2015. “Toward a Global History of Management Education: The Case of the Ford Foundation and the São Paulo School of Business Administration, Brazil”, Academy of Management Learning & Education, vol. 14, núm. 4, pp. 482-499. https://doi.org/10.5465/amle.2013.0147

Correa, Mariza. 2001. “Do feminismo aos estudos de gênero no Brasil: um exemplo pessoal”, Cadernos Pagu, núm. 16, pp. 13-30. https://doi.org/10.1590/S0104-83332001000100002

Cypriano, Breno. 2013. “Construções do pensamento feminista latino-americano”, Revista Estudos Feministas, vol. 21, núm.1, pp. 11-39. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2013000100002

Diniz, Debora e Paula Foltran. 2004. “Gênero e feminismo no Brasil: uma análise da Revista Estudos Feministas”, Revista Estudos Feministas, vol. 12, núm. especial, pp. 245-253. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2004000300026

Dowler, Lorraine e Joanne Sharp. 2001. “A Feminist Geopolitics?”, Space and Polity, vol. 5, núm. 3, pp. 165-176. https://doi.org/10.1080/13562570120104382

Faria, Lina e Maria Conceição da Costa. 2006. “Cooperação cientifica internacional: estilos de atuação da Fundação Rockefeller e da Fundação Ford”, Dados, vol. 49, núm. 1, pp. 159-191. https://doi.org/10.1590/S0011-52582006000100007

Felitti, Karina. 2015. “Traduciendo prácticas, tejiendo redes, cruzando fronteras. Itinerarios del feminismo argentino de los '70s”, Cadernos Pagu, núm. 44, pp. 229-260. https://doi.org/10.1590/1809-4449201500440229

Ferguson, Karen. 2013. Top Down. The Ford Foundation, Black Power and the Reinvention of Racial Liberalism, Filadelfia, University of Pennsylvania Press.

Fernandez, Ramon Garcia e Carlos Eduardo Suprinyak. 2019. “Manufacturing Pluralism in Brazilian Economics”, Journal of Economic Issues, vol. 53, núm. 3, pp. 748-773. https://doi.org/10.1080/00213624.2019.1644926

Fernandez, Ramon Garcia e Carlos Eduardo Suprinyak. 2018. “Creating Academic Economics in Brazil: the Ford Foundation and the beginnings of ANPEC”, EconomiA, vol. 19, núm. 3, pp. 314-329. https://doi.org/10.1016/j.econ.2018.03.004

Fundação Ford. s/d-a. Our origins. Disponível em <https://www.fordfoundation.org/about/about-ford/our-origins/#:~:text=President%20of%20the%20Ford%20Motor%20Company%20and%20son%20of%20company,also%20had%20deep%20interest%20in>

Fundação Ford. s/d-b. Board of Trustees. Disponível em <https://www.fordfoundation.org/about/board-of-trustees/>.

Goldberg, Anette. 1989. “Feminismo no Brasil contemporâneo: o percurso intelectual de um ideário político”, Boletim Informativo e Bibliográfico de Ciências Sociais, núm. 28, pp. 42-70. Disponível em <https://www.anpocs.com/index.php/bib-pt/bib-28/409-feminismo-no-brasil-contemporaneo-o-percurso-intelectual-de-um-ideario-politico/file>.

Gonçalves, Eliane e Joana Plaza Pinto (2011). “Reflexões e problemas da ‘transmissão’ intergeracional no feminismo brasileiro”, Cadernos Pagu, núm. 36, pp. 25-46. https://doi.org/10.1590/S0104-83332011000100003

Gonzalez, Débora de Fina. 2020. “Lado a lado? Feminismos e Estado durante o ‘ciclo progressista’ latino-americano”, Revista Estudos Feministas, vol. 28. núm. 3, pp.1-14. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n363040

Goss, Kristin A. 2007. "Foundations of feminism: How philanthropic patrons shaped gender politics", Social Science Quarterly, vol. 88, núm. 5, pp. 1174-1191. https://doi.org/10.1111/j.1540-6237.2007.00497.x

Grossi, Miriam Pillar. 2004. “A Revista Estudos Feministas faz 10 anos: uma breve história do feminismo no Brasil”, Revista Estudos Feministas, vol. 12, núm. especial, pp. 211-221. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2004000300023

Guzzo, Morgani e Cristina Scheibe Wolff. 2020. “Afetos no engajamento político das Marchas das Vadias no Brasil (2011-2017)”, Revista Estudos Feministas, vol. 28, núm. 2, pp. 1-11. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n272429

Hyndman, Jennifer. 2008. “Towards a feminist geopolitics”, The Canadian Geographer/Le Géographe Canadien, vol. 45, núm. 2, pp. 210-222. Disponível em <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1541-0064.2001.tb01484.x>.

Castelao Huerta, Isaura. 2023. “Recelos y envidias: Violencias sutiles de género en la academia neoliberalizada”, Debate Feminista, vol. 65, pp. 1-34. https://doi.org/10.22201/cieg.2594066xe.2023.65.2339

Kamola, Isaac A. 2019. Making the World Global. Durham: Duke University Press.

Koikari, Mire. 2012. "‘The World is Our Campus’: Michigan State University and Cold‐War Home Economics in US‐occupied Okinawa, 1945-1972", Gender & History, vol. 24, núm. 1, pp. 74-92. https://doi.org/10.1111/j.1468-0424.2011.01669.x

Kramer, Paul A. 2009. "Is the world our campus? International students and US global power in the long twentieth century", Diplomatic History, vol. 33, núm. 5, pp. 775-806. https://doi.org/10.1111/j.1467-7709.2009.00829.x

Lago, Mara Coelho de Souza. 2013. “Narrar a REF e fazer a REF: uma história coletiva”, Revista Estudos Feministas, vol. 21, núm. 2, pp. 643-653. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2013000200016

Lalaki, Despina. 2018. "The Cultural Cold War and the New Women of Power: Making a Case based on the Fulbright and Ford Foundations in Greece", Histoire Politique. Revue du Centre d'Histoire de Sciences Po, vol. 35. https://doi.org/10.4000/histoirepolitique.6157

Marquez, Benjamin. 2018. "Trial by fire: the Ford Foundation and MALDEF in the 1960s", Politics, Groups, and Identities, vol. 8, núm, 4, pp. 661-676. https://doi.org/10.1080/21565503.2018.1528554

Matuella, Iazana. 2017. “Conflitos armados e a agenda internacional: a questão da mulher”, Revista Estudos Feministas, vol. 25, núm. 3, pp. 1277-1295. https://doi.org/10.1590/1809-4449201500440229

Medina-Vicent, Maria. 2020. “Los retos de los feminismos en el mundo neoliberal” Revista Estudos Feministas, vol. 28, núm.1, pp. 1-12. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n157212

Miceli, Sergio. 1995. História das ciências sociais no Brasil. São Paulo: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Minella, Luzinete Simoes. 2008. “Fazer a REF é fazer política: memórias de uma metamorfose editorial”, Revista Estudos Feministas, vol. 16, núm.1, pp. 105-116. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2008000100010

Mohanty, Chandra Talpede. 2006. “US Empire and the Project of Women’s Studies: Stories of citizenship, complicity and dissent” Gender, Place & Culture, vol. 13, núm. 1, pp. 7-20. https://doi.org/10.1080/09663690600571209

Moraes, Maria Lygia Quartim de. 1997. “O feminismo e a vitória do neoliberalismo”, in Monica Raisa Schpun (comp.). Gênero sem fronteiras, Florianópolis, Editora Mulheres, pp. 141-151.

Moraes, Maria Lygia Quartim de. 2018. “Os feminismos de Mariza Corrêa”, Cadernos Pagu, núm. 54. https://doi.org/10.1590/18094449201800540005

Navarro, Marysa. 1979. “Research on Latin American Women”, Signs: Journal of Women in Culture and Society, vol. 5, núm. 1, pp. 111-120. Disponível em <https://www.jstor.org/stable/3173538>.

Pedro, Joana Maria. 2008. “Militância feminista e academia: sobrevivência e trabalho voluntário”, Revista Estudos Feministas, vol.16, núm. 1, pp. 87-95. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2008000100008

Pra, Jussara Reis e Léa Epping. 2012. “Cidadania e feminismo no reconhecimento dos direitos humanos das mulheres”, Revista Estudos Feministas, vol. 20, núm.1, pp. 33-51. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2012000100003

Pinto, Céli Regina Jardim. 2014. “O feminismo bem-comportado de Heleieth Saffioti (presença do marxismo)”, Revista Estudos Feministas, vol. 22, núm.1, pp. 321-333. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2014000100017

Pinto, Céli Regina Jardim. 2003. Uma história do feminismo no Brasil, São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo.

Ridenti, Marcelo. 2022. O segredo das senhoras americanas: intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria Cultural, São Paulo, Editora da Universidade Estadual Paulista.

Saffioti, Heleieth. 1995. “Enfim, Sós Brasil rumo a Pequim”, Revista Estudos Feministas, vol. 3, núm. 1, pp. 198-202. Disponível em <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/

/15499>.

Santos, Emanuelle e Patricia Schor. 2013. “Brasil, estudos pós-coloniais e contracorrentes análogas: entrevista com Ella Shohat e Robert Stam”, Revista Estudos Feministas, vol. 21, núm. 2, pp. 701-726. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2013000200020

Schilling, Flavia. 2015. “Entre memórias, entre arquivos: por que não falar sobre o exílio?”, Revista Estudos Feministas, vol. 23, núm. 3, pp. 991-999. https://doi.org/10.1590/0104-026X2015v23n3p991

Schmidt, Rita Terezinha. 2006. “Refutações ao feminismo: (des)compassos da cultura letrada brasileira”, Revista Estudos Feministas, vol. 14, núm. 3, pp. 765-799. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2006000300011

Suprinyak, Carlos Eduardo, e Ramon G. Fernández. 2015. “Funding Policy Research Under 'Distasteful Regimes': The Ford Foundation and the Social Sciences in Brazil, 1964-71”, Journal of Latin American Studies, vol. 54, núm. 3, pp. 405-430. https://doi.org/10.1017/S0022216X22000256

Soares, Vera. 1994. “Movimento Feminista. Paradigmas e desafios”, Revista Estudos Feministas, núm. especial, pp. 11-24. Disponível em <https://www.jstor.org/stable/24327157>.

Tornquist, Carmen Susana e Soraya Resende Fleischer. 2012 “Sobre a marcha mundial das mulheres: entrevista com Nalu Faria”, Revista Estudos Feministas, vol. 20, núm. 1, pp. 291-312. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2012000100016

Yang, Rujun. 2020. "Varieties of Feminisms in Contemporary China: Local Reception and Reinvention of Liberal Feminism in Ford Foundation Projects", Social Politics: International Studies in Gender, State & Society, vol. 27, núm. 3, pp. 510-533. https://doi.org/10.1093/sp/jxz050

Wolff, Cristina Scheibe. 2008. “Estudos feministas e movimentos sociais: desafios de uma militância acadêmica em forma de revista”, Revista Estudos Feministas, vol. 16, núm. 1, pp. 81-86. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2008000100007